A guerra com Nikolas não é para Haddad
“Há gente habilitada a enfrentar os políticos influencers da extrema direita, e não é ninguém do governo”, afirma o colunista Moisés Mendes
Foram derrotados os que achavam que esse seria um embate improvável, porque alguém se atravessaria na frente dos dois e gritaria peraí, chegou, agora deu.
Mas aconteceu o duelo de Fernando Haddad com Nikolas Ferreira, mesmo que sem Nikolas presente. O deputado puxou suas armas, leu meia dúzia de frases que alguém escreveu sobre déficit fiscal, fugiu e deixou Haddad falando sozinho.
Aconteceu na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Outro deputado bolsonarista, Carlos Jordy, ajudante de Nikolas, ficou sabendo que o ministro se defendia e retornou à comissão para tentar desqualificar Haddad.
É o roteiro para qualquer situação entendida como debate e que envolva a extrema direita. Porque é preciso produzir cortes, fazer vídeos, disseminar mensagens de alguns segundos entre as suas bases e também nas bases alheias.
Haddad foi puxado para uma briga de rua que não pode ser dele, não com essa gente. O estagiário do Ministério da Fazenda sabe. O deputado mais medíocre da Câmara sabe. Até Augusto Heleno sabe que nunca haverá clima para esse tipo de duelo entre Haddad e Nikolas.
É como se, transferindo para a arte, Milton Nascimento duelasse com Gusttavo Lima. Haddad não vai vencer nunca. Nikolas não representa a direita que anos atrás ia para o embate disposta a avançar e recuar pelo conjunto de argumentações. Vamos repetir o bordão do tio no almoço do domingo: nem na ditadura era assim.
Em outros tempos, Haddad debateria com outro tipo de gente. Hoje, discute com deputados que, disse o ministro, só fazem molecagem. Não, não fazem. Molecagem é outra coisa.
O que o Haddad enfrentou foi a ponta exposta do fascismo, na estrutura maior que junta a nova extrema direita, a velha direita, milicianos, Faria Lima, Globo, grileiros, fazendeiros, garimpeiros e todo o entorno em volta deles.
Nunca será apenas molecagem. Nikolas e Jordy usam táticas para desviar o foco de qualquer debate sério com ideias para que a questão fiscal se resolva.
Porque o bolsonarismo, a Faria Lima, o Globo, os ricos não querem saídas. Nem Hugo Motta. Querem asfixiar o governo e inviabilizar Lula para 2026. Não querem tributação da alta renda, o fim de isenções tributárias e nem o aumento do IOF.
Querem mais autonomia para sequestrar recursos via emendas. E impor cortes em gastos sociais. São da turma de Bolsonaro e de Armínio Fraga, que vendem todos os dias a necessidade de dar fim aos ganhos reais do salário mínimo. Mas sem cortes nos ganhos do capital.
“Estamos colocando na mesa a discussão sobre corte nas isenções fiscais”, disse Hugo Motta no domingo. Na segunda, sabendo que a turma de Nikolas estava preparando outros cortes, os de vídeos de 20 segundos, disse que não era bem assim. Não é bem assim para todos os dedicados ao projeto de imobilizar Lula.
O primo do estagiário do Ministério da Fazenda sabe que a próxima pauta de Nikolas Ferreira é o BPC, o Benefício de Prestação Continuada. São mais de 6 milhões de velhinhos e pessoas com deficiências que recebem o salário mínimo do BPC.
Uma minoria, como ocorre em tudo que envolve descontroles e fraudes, pode ter burlado as regras para recebimento do benefício. Mas Nikolas já tem pronto o vídeo em que falará para todos os 6 milhões de brasileiros do BPC e suas famílias, se o governo auditar o programa com algum estardalhaço.
Um vídeo curto pode atingir, só entre os beneficiados e o pessoal de casa de cada um deles, mais de 20 milhões de pessoas. É uma barbada para os drones do bolsonarismo.
E com quem o governo pode se defender desse novo ataque? Com Fernando Haddad? O primo do estagiário do Ministério da Fazenda, que entende de redes sociais e de como as pessoas estão aprendendo a viver de mentiras – como Lula se queixou em Minas –, esse primo sabe que o duelo com as celebridades do bolsonarismo é para quem domina essa arena.
Não é para Haddad, Lula e para quem vê a expansão das ações das facções bolsonaristas apenas como molecagem. É para quem sabe manejar as mesmas peixeiras usadas por esses indivíduos.
Há gente habilitada a enfrentar os influencers com voto e mandato da extrema direita. Esses ninjas existem. Alguém deve chamá-los para a guerra, para que não continuem dispersos e subestimados pela própria esquerda de dentro e de fora do governo.
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