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Sergio Ferrari

Jornalista latino-americano radicado na Suíça. Autor e coautor de vários livros, entre eles: Semeando utopia; A aventura internacionalista; Nem loucos, nem mortos; esquecimentos e memórias dos ex-presos políticos de Coronda, Argentina; Leonardo Boff, advogado dos pobres etc.

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Às vésperas da Cúpula em Haia, a Otan é puro fuzil e garrote

Representantes dos 32 países que integram a Organização da Aliança do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ) realizam sua cúpula dentro de dez dias

Movimento pela paz, contra guerra (Foto: Wikimedia Commons y TNI.jpg)

Por Sergio Ferrari, de Berna, Suíça - Sopram ventos militaristas de um tsunami unipolar que pode reduzir o planeta a escombros. Em poucos dias, 24 e 25 de junho, em Haia, desembainharão garrotes e afiarão as facas, no local do Fórum Mundial de Haia, nos Países Baixos, na cidade militarizada (simbólica) e controlada pelo menos por 27 mil efetivos de distintas forças e para a qual o governo destina 95 milhões de euros. Os atores, , bem como uma dezena de seus “sócios globais”. O objetivo é multiplicar o orçamento militar de todos os seus Estados membros em uma escalada bélica que a Aliança justifica olhando para frente a Rússia e de lado a China.

Apesar de não ser novidade, já que o vem repetindo há meses, o pronunciamento mais recente de Mark Rutte, secretário geral da OTAN, em 9 de junho no Chatham House, em Londres, atualiza as perspectivas dessa organização e antecipa os objetivos de dita Cúpula. Será, essencialmente, aprovar o que Rutte define como o plano para transformar a Aliança e “construir uma OTAN melhor..., mais forte, mais justa e mais letal, para que possamos continuar mantendo nossa gente a salvo e nossos adversários na linha” (https://www.nato.int/s/en/natohq/opinions_235867.htm).

Rutte, líder do direitista Partido Popular pela Liberdade e pela Democracia de seu país entre 2006 e 2023 e primeiro ministro durante quatorze anos (2010-2024), analisa a geopolítica mundial de forma tão simplista como linear: “Por culpa da Rússia, a guerra retornou à Europa. Também enfrentamos a ameaça do terrorismo e uma competição feroz de âmbito global”. E acrescenta que a Rússia se aliou à China, à Coreia do Norte e ao Irã e que todos eles “estão expandindo suas forças armadas e suas capacidades”. Em termos de munições, afirma, a Rússia, em três meses, produz o que a OTAN produz em um ano e calcula-se que sua base industrial para a defesa fabricou, somente em 2025, 1.500 tanques, 3 mil veículos blindados e 200 mísseis Iskander. Segundo Rutte, “em cinco anos, a Rússia poderia estar pronta para usar a força militar contra a OTAN”.

Hoje, exercendo como secretário da Aliança, Rutte argumenta que a China também está modernizando e ampliando seu exército em um ritmo vertiginoso “Já possui a maior armada do mundo. E espera-se que sua força de combate aumente para 435 buques até 2030. Está reforçando seu arsenal nuclear. Seu objetivo é contar com mais de 1.000 ogivas nucleares operativas até 2030”. E adverte que “os que se opõem à liberdade e à democracia se entrincheiram. Preparam-se para um confronto em longo prazo. Tentam dominar-nos e dividir-nos”. A conclusão de Rutte é contundente: “Já não existe Leste nem Oeste: só existe a OTAN”.

Plano apocalíptico

Para o secretário geral da OTAN, não há dúvida de que “uma OTAN mais forte significa gastar muito mais em nossa defesa”. E assegura que até o final de 2025 todos os países membros de sua organização alcançarão o seu objetivo inicial de destinar 2% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para a defesa –objetivo que se ajusta à promessa já acordada por consenso em 2014 durante a Cúpula da Aliança, em Newport Gales, apesar de que dito consenso não foi vinculante, ou seja, não tem caráter obrigatório.

“Agora, temos um plano concreto para o futuro”, afirma Rutte. E agrega que “sabemos o que necessitamos e sabemos o que fazer”. Amplificando as novas exigências do governo Trump, Rutte espera que na Cúpula de Haia os líderes aliados concordem em destinar em médio prazo 5% do PIB de seus respectivos orçamentos nacionais para a defesa. “Será um compromisso de toda a OTAN e um momento decisivo para a Aliança”, antecipa Rutte.

Seu plano consta de duas partes: uns 3,5% desses recursos será destinado ao que ele considera necessidades militares básicas. O restante será destinado a investimentos relacionados com a defesa e a segurança, incluindo infraestrutura e o desenvolvimento da capacidade industrial. Esse programa, com propostas de Rutte considera já como “decisões”, baseia-se em planos de batalha e os objetivos de capacidade da Aliança, ou seja, o volume de forças e de capacidades que se espera de seus aliados. Rutte é contundente: “Os detalhes exatos são confidenciais; porém, necessitamos um aumento de 400% na defesa aérea e antimísseis... Nossos exércitos também necessitam de milhares de veículos blindados e de tanques adicionais. E devemos duplicar as nossas capacidades de apoio, como a logística, o subministro, o transporte e o apoio médico. Os aliados investirão em mais buques de guerra e aeronaves. Por exemplo, serão adquiridos pelo menos 700 aviões de combate F-35 [da multinacional de origem estadunidense Lockheed Martin]. Também investiremos em mais drones e em sistemas de mísseis de longo alcance. E aumentaremos nossos investimentos em capacidades espaciais e cibernéticas”.

Outro olhar

Há tempos, o movimento pacifista mundial se opõe criticamente à OTAN, a qual define como uma aliança militar que fundamenta a sua razão de ser no uso (ou na ameaça) da violência. Várias de suas principais organizações associadas que conformam a Coalizão da Contracúpula pela Paz e pela Justiça convocam, em Haia, nos dias 21 e 22 de junho, a uma iniciativa mista de reflexão e mobilização. Essa coalizão, composta por organizações e ativistas que se opõem à militarização da Europa e do mundo, afirma que enquanto “os líderes da OTAN planejam um maior gasto com a defesa, escuta-se uma contundente contramensagem: os bilhões gastos em armas agravam a insegurança, socavam a justiça social e aceleram a crise climática”.

O Instituto Transnacional (TNI), com sede em Amsterdã, Holanda, é um dos promotores dessa iniciativa: “nos dias prévios à cúpula da OTAN, a coalizão busca amplificar a sua voz crítica e alternativa”. Com mesas redondas, cursos e conferências, esse evento contestatário “explorará os riscos do enfoque militarizado da OTAN e promoverá vias para uma paz sustentável e justa”. O evento culminará com a manifestação nas ruas contra a cúpula da Aliança (https://www.tni.org/en/article/nato-summit-2025-counter-summit-21-22-june-the-hague).O próprio TNI acaba de publicar o documento STOP à Cúpula da Guerra da OTAN, elaborado por três organizações especializadas. Esse documento analisa, entre outros temas, as diversas “formas como a OTAN contribui concretamente para aumentar a insegurança, obstaculizar uma paz sustentável e manter a injustiça.

Entre os seus argumentos, o TNI assinala que a opção da aliança militar pela violência deixa em segundo plano “outros ângulos e vias, como a diplomacia, a prevenção de conflitos e o diálogo”. Recorda que a OTAN se centra nos interesses de seus Estados membros, o que “vai além da defesa coletiva do território comum”. E sustenta que busca manter e ampliar a (poderosa) posição dos países da OTAN em nível mundial e a competência de seus competidores geopolíticos (China e Rússia), bem como garantir o o às matérias primas (fósseis). Nesse sentido, assinala o documento do TNI, a OTAN constitui “principalmente o braço militar do capitalismo ocidental”.

O documento do TNI recorda que as guerras e outras operações militares nas quais a OTAN participa “causam muitas mortes, feridas, traumas, destruição e danos meio ambientais” e que “países como o Afeganistão, o Iraque e a Líbia ficaram em ruínas e são uma reserva de caça para as empresas ocidentais em âmbitos como a reconstrução, a exploração de matérias primas e a segurança”. Por outro lado, sustenta que a expansão e o escudo antimísseis aumentam as tensões. Após o final da Guerra Fria, quando muitos países do antigo Pacto de Varsóvia uniram-se à OTAN, a Rússia percebeu essa expansão para o oeste como uma ameaça. A retirada dos Estados Unidos do Tratado de Mísseis Antibalísticos com a Rússia e a construção de um escudo antimísseis aumentaram as tensões. A aceitação da Ucrânia como potencial candidato à OTAN é assinalada como uma das causas da invasão russa.

O TNI sustenta que, em vez de pressionar pelo desarmamento nuclear, “a possibilidade de utilizar armas nucleares constitui uma parte central da estratégia militar da OTAN”, sabendo-se que “as armas nucleares são as mais destrutivas do mundo”. A nível climático, argumenta o documento publicado pelo TNI, os efeitos nocivos de dita estratégia militaristas são notáveis devido a que “o complexo militar-industrial contribui significativamente às emissões de gases de efeito estufa, com uns 5,5% do total mundial”. Por outro lado, dito complexo “está à margem de todos os acordos climáticos”. Com respeito à expansão territorial da OTAN, o TNI fala da “militarização das fronteiras exteriores da Europa, nos mares Mediterrâneo e Egeu”, e alega que “essa vigilância fronteiriça contribui à violência e às violações dos direitos humanos contra os refugiados e os obriga a utilizar rotas mais perigosas e os serviços dos contrabandistas de pessoas”.

Por último, o TNI responsabiliza a OTAN por esbanjar dinheiro ao sustentar a indústria armamentista, estimular o desenvolvimento de novas armas e tecnologias militares e promover a expansão das capacidades de produção de armas. E denuncia o apoio da OTAN a regimes autoritários, já que, com o fim de promover os seus interesses, coopera frequentemente com outros países sócios; porém, sem prestar muita atenção à natureza de alguns desses governos, como é o caso do Egito, do Cazaquistão, do Paquistão, do Tadjiquistão e dos Emirados Árabes Unidos, bem como de Israel, um aliado importante, apesar de anos de violência, ocupação e opressão israelense contra o povo palestino.

Vozes antimilitaristas

As críticas e as iniciativas dissidentes contra a política oficial da Europa e da OTAN se multiplicam. Por exemplo, o Chamamento unitário contra o rearmamento europeu e a continuidade da OTAN, promovido por organizações ecologistas, de direitos humanos, pacifistas e de desenvolvimento, especialmente da Espanha, apesar de que não somente desse país (https://mundoobrero.es/2025/05/10/llamamiento-unitario-contra-el-rearme-europeo-y-la-continuidad-de-la-otan/).

Essa iniciativa considera que a Aliança Atlântica faz parte de um sistema de segurança “que tem contrariado de forma reiterada a Carta das Nações Unidas, gerando mais insegurança em diversas zonas geográficas do mundo”. Opõe-se ao “atual destacamento militar estadunidense de 750 bases em mais de 80 países”. Expressa sua preocupação “com a existência de um arsenal de armas de destruição em massa, especialmente nucleares, que põe em risco a existência da humanidade e da vida no planeta”. Rebela-se contra as “guerras comerciais impostas pelas elites econômicas em benefício próprio e contra os interesses das maiorias sociais em escala global”. E pronuncia-se a favor de um sistema de segurança baseado no fomento da confiança e da cooperação entre países e interessado em dar respostas a ameaças globais como a fome, a desnutrição, a pobreza, a desigualdade, as doenças, o desemprego, a emergência climática, as armas de destruição em massa, o desrespeito aos direitos humanos e o não cumprimento sistemático do direito internacional.

Outra iniciativa, a Campanha Stop ao rearmamento. Bem-estar social em vez de guerra, busca converter-se em um movimento continental. Tal como afirmam seus promotores, “nos opomos aos planos da União Europeia de gastar 800 bilhões de euros adicionais em armas”. E agrega: “Serão 800 bilhões de euros roubados. Roubados dos serviços sociais, da saúde, da educação, do trabalho, da consolidação da paz, da cooperação internacional, uma transição justa e da justiça climática [e que] somente beneficiará aos fabricantes de armas da Europa, dos Estados Unidos e de outros países”.Esse conceito é ratificado por Jordi Calvo, coordenador do Centro Delàs de Estudos pela Paz, que tem sua sede central em Barcelona e presença em outras cidades do Estado Espanhol e que é signatário do Chamamento unitário e membro do Stop ao rearmamento. “O incremento de pelo menos 5% proposto pela OTAN busca aumentar o dinheiro disponível para a indústria militar”, assinala Calvo. E insiste que “as armas que serão compradas com o aumento do orçamento serão, sobretudo, dos EUA, principal impulsionador e beneficiário”. Jordi Calvo define como prioridade do movimento pela paz, desenvolver “uma visão crítica das propostas militaristas da OTAN que podem ter sido determinantes para que a guerra voltasse à Europa”.

Guerra ou paz. OTAN ou o freio à militarização. Uma Europa em ebulição (com dezenas de atividades questionadoras como outra contracúpula a realizar-se em Bruxelas e uma Conferência pela Paz, em Madri) propõe um debate de fundo da sociedade. O poder (Governos, a própria OTAN) buscam avançar linearmente, sem nenhuma consulta, encurralando o Velho Mundo e lançando-o à aventura bélica. Importantes setores sociais subiram o tom, questionam, apostam em outra construção da segurança continental e, sobretudo, recordam os estragos e o alto preço que a Europa contemporânea tem pago por suas próprias guerras durante as últimas onze décadas e a partir de um muito nefasto 28 de julho de 1914.

Tradução: Rose Lima.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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