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Luis Mauro Filho

Luis Mauro Filho é jornalista, formado em Estudos de Mídia pela Universidade do Wisconsin, e é editor do Brasil 247.

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Europa aposta em rearmamento bilionário e escala conflito com Rússia: quem pagará a conta?

União Europeia lança plano de € 800 bi para reforçar defesa, ignora imes diplomáticos e amplia riscos econômicos e geopolíticos

Bandeiras da União Europeia tremulam do lado de fora da sede da Comissão Europeia em Bruxelas, Bélgica, em 10 de abril de 2019 (Foto: REUTERS/Yves Herman)

A União Europeia intensificou, ao longo deste ano, sua retórica militar, adotando medidas concretas para reforçar o aparato bélico do continente. O movimento mais expressivo nesse sentido foi a aprovação de um plano de rearmamento de € 800 bilhões, articulado pela Comissão Europeia, com o objetivo de ampliar rapidamente a capacidade de defesa da região e assumir protagonismo no apoio à Ucrânia, em guerra com a Rússia desde 2022.

Esse plano, informalmente chamado de “Rearmar a Europa”, combina duas frentes de financiamento: € 150 bilhões provenientes de empréstimos da própria União e aproximadamente € 650 bilhões a serem aportados pelos países-membros ao longo de quatro anos. Trata-se da maior mobilização militar da UE desde a Guerra Fria.

Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o objetivo é assegurar a segurança coletiva do bloco. “Estamos determinados a investir mais, investir melhor e investir mais rápido”, afirmou. O posicionamento foi reforçado pela presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola: “É algo que pedimos há muito tempo. Precisamos estar preparados, produzir e proteger”.

Como parte da estratégia, o plano prevê a flexibilização temporária das regras fiscais europeias, permitindo que os gastos com defesa ultraem os tetos usuais de déficit público. A medida conta com apoio de países como Polônia, Estônia e Lituânia, que defendem há anos uma linha mais dura em relação à Rússia e argumentam que o atual contexto de conflito justifica uma resposta excepcional.

De forma paralela, os gastos militares da UE já apresentaram aumento expressivo. Em 2024, segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), os investimentos em defesa cresceram 17%, atingindo US$ 693 bilhões — o maior avanço proporcional entre todas as regiões do mundo. Reino Unido e França lideraram esse crescimento, com orçamentos estimados em US$ 82 bilhões e US$ 65 bilhões, respectivamente.

Imes impedem avanço de negociações

Apesar da mobilização orçamentária, os esforços diplomáticos do bloco têm sido ineficazes. Propostas recentes de cessar-fogo, encabeçadas por países como Áustria e Irlanda, não avançaram diante do ime entre as partes. A Rússia, atualmente em vantagem militar, condiciona qualquer negociação ao reconhecimento das quatro regiões ucranianas anexadas em 2022 — Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia — após referendos realizados sob ocupação militar.

O Kremlin sustenta que os plebiscitos expressam a autodeterminação das populações locais e exclui qualquer possibilidade de devolução dos territórios. O chanceler russo, Sergei Lavrov, resumiu essa posição ao afirmar: “Não faz sentido convidar os europeus [para negociações]. Eles falam de paz, mas querem a continuação da guerra”.

Já o Ocidente rejeita a legitimidade desses referendos, alegando que violam o Memorando de Budapeste, assinado em 1994, no qual a Rússia se comprometia a respeitar a integridade territorial da Ucrânia em troca da devolução do arsenal nuclear herdado da URSS. Para Estados Unidos e União Europeia, a anexação constitui ruptura grave das garantias pós-Guerra Fria.

Em contrapartida, Moscou acusa o Ocidente de também violar compromissos assumidos nos anos 1990. A principal queixa refere-se à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em direção ao leste europeu. Segundo o governo russo, teria havido acordos verbais de que a aliança não se expandiria. No entanto, historiadores ocidentais argumentam que não há documentos formais que sustentem essa alegação e ressaltam que as adesões à OTAN ocorreram por decisão soberana dos novos membros.

Nesse ambiente de desconfiança mútua, as tensões se agravaram ainda mais com a recente declaração do chanceler alemão Friedrich Merz, que autorizou publicamente a Ucrânia a utilizar armamentos ocidentais para atacar alvos em território russo. A medida, inédita até então, representou uma inflexão na posição de Berlim e ampliou o grau de envolvimento europeu no conflito.

A reação de Kiev veio rapidamente. No último domingo (1), a Ucrânia lançou seu maior ataque aéreo contra bases militares russas desde o início da guerra. Utilizando mais de 100 drones, o país atingiu instalações em diversas regiões do território russo, incluindo Murmansk, Irkutsk, Ivanovo, Riazan e Amur — algumas delas localizadas a mais de 4.000 km da fronteira ucraniana.

De acordo com o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), os alvos atingidos tinham uso estratégico e serviam de base para ataques russos contra cidades ucranianas. Imagens de satélite e relatórios de inteligência indicam que até 40 aeronaves, incluindo bombardeiros Tu-95 e Tu-22, foram destruídas ou danificadas. Estima-se que o prejuízo supere US$ 7 bilhões.

Em resposta, Moscou lançou uma ofensiva de retaliação no mesmo fim de semana, disparando centenas de drones e mísseis contra infraestruturas energéticas e áreas urbanas na Ucrânia. O governo de Volodymyr Zelensky relatou pelo menos 20 mortes e quedas no fornecimento de energia em diversas regiões centrais do país.

No contexto dessa escalada, o presidente norte-americano Donald Trump, que assumiu em janeiro seu segundo mandato, tem enfrentado dificuldades para cumprir a promessa de campanha de encerrar a guerra “em 24 horas”. Embora tenha estabelecido um canal de diálogo com Moscou, mediado pela Arábia Saudita e à margem da UE e da Ucrânia, os encontros até agora não produziram resultados concretos.

Informações de bastidores indicam que Trump estaria disposto a congelar o status dos territórios ocupados e vetar a entrada da Ucrânia na OTAN, em troca de um cessar-fogo. O Congresso dos EUA, com maioria republicana, tem se mostrado dividido. Enquanto parte da bancada mantém apoio a Kiev, outra ala pressiona por uma saída negociada e pela redução do envolvimento norte-americano.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, por sua vez, resiste à possibilidade de qualquer acordo que implique perda territorial. Ainda assim, diante da suspensão temporária de pacotes de ajuda militar por parte dos Estados Unidos, aceitou iniciar conversas com Trump. A crescente pressão por um desfecho diplomático é sentida tanto na Europa quanto em Washington.

Interesses por trás da manutenção da guerra

Paralelamente ao campo político e militar, o rearmamento europeu está profundamente vinculado a interesses econômicos. A indústria de defesa tem sido uma das maiores beneficiárias da guinada armamentista. Estimativas apontam que, desde 2022, cerca de dois terços das compras de armas feitas pelos países da UE foram supridas por empresas norte-americanas.

Em resposta, o novo plano europeu prevê estímulos à produção militar interna, com o objetivo de reduzir a dependência externa e impulsionar cadeias produtivas no próprio continente. Ainda assim, há críticas crescentes sobre o impacto social dessa política. O caso do Reino Unido, que anunciou cortes em ajuda humanitária para financiar o aumento dos gastos com defesa, exemplifica os dilemas orçamentários enfrentados por diversos governos.

Apresentado como instrumento de dissuasão, o rearmamento europeu pode, na prática, fomentar uma escalada prolongada do conflito. Ao ampliar o alcance e a intensidade dos ataques, a UE se distancia de soluções diplomáticas e coloca em risco não apenas a estabilidade regional, mas também a sustentabilidade de suas contas públicas.

A ausência de uma estratégia clara para a resolução da guerra, somada ao fortalecimento das capacidades bélicas de ambos os lados, aponta para a consolidação de um cenário de conflito permanente.

Para os cidadãos europeus, isso significa não apenas custos elevados, mas também o risco real de que a guerra se normalize como horizonte político — com implicações profundas para a segurança global.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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