Herus, os deuses e a violência policial
A violência policial contra moradores da periferia no Brasil precisa acabar. As estatísticas comprovam o genocídio em curso em todo o território nacional
Herus pode remeter a Eros, o filho de Afrodite, a deusa do amor. Talvez sua mãe quisesse homenagear o amor que sentia por aquele filho recém chagado ao nosso mundo, e, ao registrá-lo no cartório, tenha pronunciado o nome que acabou ganhando essa nova grafia: Herus. Herus Guimarães Mendes, um jovem de 23 anos, trabalhava em uma imobiliária e morava em uma favela no Rio de Janeiro. Foi assassinado por policiais do BOPE – o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do estado.
Quais foram os “crimes” de Herus? Aos olhos da PM e de seu comando, muito provavelmente: amar as festividades folclóricas do mês de junho, ter nascido pobre e ser preto. A violência policial contra moradores da periferia no Brasil precisa acabar. As estatísticas comprovam o genocídio em curso em todo o território nacional. E, como já foi dito, a imensa maioria das vítimas têm em comum a cor da pele e o CEP onde vivem.
Interromper esse ciclo exige mudanças profundas. a, necessariamente, pelo avanço socioeconômico da população: mais empregos com melhores salários, educação de qualidade, moradias dignas e tempo para o lazer, por exemplo.
Mas a também - e com urgência - pela desmilitarização das polícias. Contudo, enquanto isso não acontece, se é que algum dia nossa democracia terá musculatura suficiente para desfazer esse paradoxo, é preciso agir de imediato: reformar os processos de seleção e treinamento desses agentes públicos, que deveriam garantir a segurança da população, não causar terror.
O descontrole das polícias militares em todo o país é escandaloso. Nos últimos anos - e é impossível dissociar isso do avanço do discurso extremista e do empoderamento político de setores autoritários -, uma parcela significativa dessas corporações ou a se ver como justiceira. Matam primeiro, perguntam depois. Mas onde? Nos bairros nobres das grandes cidades? Não. Nas periferias, nos bairros onde vivem trabalhadores e trabalhadoras mais pobres.
Esse comportamento é mais uma das faces do racismo multidimensional que molda a moral da nossa sociedade. E os olhos fechados de governadores e de setores do Judiciário apenas reforçam essa lógica perversa. Não é a falta de leis que impede a punição de ações como a que vitimou Herus - é a conivência de quem comanda as polícias e a cumplicidade de uma parte significativa da sociedade, que silencia diante dessa realidade.
Que Têmis e Xangô lancem seus olhares sobre o Brasil e façam valer a justiça. Que Ogum e Zeus nos tragam a paz.
E que homens e mulheres cumpram seu papel: condenando os que abusam de suas funções e defendendo o direito de todos a uma vida digna, segura e plena.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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