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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: [email protected]

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Lula e as cartas para Janja: na cadeia, ele não perdeu a ternura, apesar da brutalidade de que foi alvo

O que soube ao fazer o documentário 580 dias é que ele muda a letra conforme o interlocutor e seu estado de espírito. Para Janja, escrevia com tinta rosa

Rochinha e Maneco, uma carta com tinta cor de rosa e Lula ao discursar (Foto: Reprodução)

Nesta quinta-feira, em visita ao Paraná, Lula falou sobre o período em que ou no cárcere em Curitiba, entre abril de 2018 e novembro de 2019. Foi uma prisão política, com mandado assinado por aquele que seria ministro de Jair Bolsonaro, seu adversário. Mas Lula não falou com amargura. Pelo contrário. Lembrou das cartas que recebia diariamente de Rosângela Silva, a Janja, na época sua namorada e depois noiva.

“Vocês já receberam carta de amor? Vale mais do que um presente”, disse o presidente, durante a cerimônia para oficializar a criação do Assentamento Maila Sabrina, localizado entre os municípios de Ortigueira e Faxinal. Sempre que vai ao Paraná, é natural que lembre daqueles dias no cárcere providenciado para tirá-lo da disputa eleitoral em que era favorito. Além das cartas de amor, falou de dois de seus carcereiros, que estavam presentes. Ao falar, sorria.

Nas voltas que o mundo dá, Lula se elegeu outra vez presidente e o beneficiário de seu algoz, Bolsonaro, chora com medo de ser preso, por crimes contra o estado democrático de direito. No cárcere, as lágrimas que Lula derramou foram pela morte de seu grande amigo, Sigmaringa Seixas, do seu irmão, Vavá, e de seu neto, Arthur. No mais, enfrentou a adversidade com a cabeça erguida.

Sei disso porque fiz o documentário “580 dias - A prisão e a volta triunfal de Lula”, e conversei com muitos dos que acompanharam de perto a rotina de presidente na cadeia da Polícia Federal, como os advogados Luiz Carlos Rocha, o Rochinha, e Manuel Caetano, o Maneco. Como disse Lula, os dois o visitavam diariamente na prisão – na verdade, de segunda a sexta-feira, pois, nos fins de semana e feriados, Lula permanecia na cadeia em completo isolamento.

“Eles (os advogados) sabem a ansiedade que eu ficava. O Maneco conversava comigo dois minutos e falava ‘e minha carta?’. O dia que ele falava ‘hoje não tem carta’, eu entrava em depressão. A depressão ava porque, no dia seguinte, eu recebia duas. Eu nunca pensei na minha vida que fosse tão bom escrever carta. De noite, você sozinho numa cela, pensando na amada, e você escrevendo para ela”, relembrou Lula.

A TV pública mostrou Rochinha e Maneco quando Lula discursava. Maneco chorou. Ele também foi testemunha de outra demonstração de amor para Janja. No Dia dos Namorados, foi intermediário de uma mensagem verbal de Lula. Ele pediu que Maneco avisasse Janja que, às 20 horas, piscaria a luz de seu cárcere e pediu que Janja fizesse o mesmo, do apartamento de uma amiga, cuja janela dava vista para a fresta de sua cela.

E assim foi feito.

Sobre as cartas, um detalhe que descobri ao fazer a apuração para o documentário é que Lula muda a letra conforme o interlocutor e seu estado de espírito. Para se corresponder com Janja, ele pediu a seu assessor, Marco Aurélio Santana Ribeiro, atual chefe de gabinete da Presidência da República, que comprasse uma caneta com tinta cor de rosa.

Para Janja, a letra era caprichada, cursiva. Quando ele queria dar bronca em alguém, a escrita era um garrancho, desalinhada, e com tinta preta ou azul. Não vi as cartas de Lula a Janja, mas os portadores (Rochinha e Maneco) contam que era assim. 

Vi a carta que Lula mandou para a filha de Rochinha, Luiza, em resposta a uma mensagem carinhosa da menina. A letra também era caprichada, e com a caneta da cor rosa. Ele agradece pelos “brinquedinhos” que Luiza havia enviado, e promete brincar com eles quando receber a visita das netas. Os brinquedinhos eram atempos, como esses de revista. Luiza imaginava que Lula tinha muito tempo livre na prisão.

Na verdade, exceto dos períodos de luto, Lula escrevia e lia muito na cadeia. Lia tanto que um amigo sugeriu que ele usasse o tempo de leitura para reduzir o cumprimento da pena (injusta). Lula deu uma bronca homérica nesse conselheiro. “Não leio para reduzir pena, mas para entender melhor a humanidade e a injustiça que fizeram comigo”.

Um dos livros de que mais gostou foi O Petróleo, de Daniel Yergin. Lula sabia que estava no cárcere por conta da disputa geopolítica que tinha o pré-sal como motivo. Não se sabe se verbalizou, mas, ao ler a obra, é muito provável que tenha se dado conta de que a política, em qualquer âmbito, nacional ou planetária, é selvagem. Mas Lula, como mostrou em seu discurso desta quinta-feira, não perdeu a ternura.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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