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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Toneladas de golpe para consumo próprio

“Todos os réus interrogados apresentaram a desculpa de que participavam de grupos privados de conspiração”, escreve Moisés Mendes

Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes no STF - 10/06/2025 (Foto: Antonio Augusto/STF)

Tim Maia poderia nos socorrer na tentativa de compreensão do fracasso do golpe, depois da primeira rodada de interrogatórios de testemunhas e réus das facções de Bolsonaro. O Brasil, disse Tim Maia, é um país que não pode dar certo porque traficante consome a droga que vende. 

Bolsonaro, os militares e também os civis, muitos desses ainda encobertos, fracassaram porque estavam produzindo golpe para consumo próprio. Não tinha como dar certo.

Todos os depoimentos de golpistas no Supremo conduzem sempre para a mesma desculpa. Os ingredientes que eles manipulavam, e que foram apreendidos pela polícia, eram para fazer um golpe para consumo próprio.

Seriam toneladas de golpe, mas sempre para ficar entre eles. O delegado Alexandre Ramagem produzia divagações golpistas, todas apreendidas, que deveriam ser enviadas a Bolsonaro e parceiros.

Mas ele não enviava nada, mantinha suas ideias no computador ou nos celulares. Ramagem disse a Alexandre de Moraes que seus pensamentos com ataques às eleições eram para consumo próprio. 

Acharam a primeira minuta do golpe com outro delegado, o réu Anderson Torres. Mas também era para consumo próprio. Cada um tinha a sua minuta. Todos ali viram ou consumiram uma minuta em algum momento, porque estavam distribuindo minutas nas ruas de Brasília, no Google, em toda parte, dentro de um plano de marketing de degustação de minutas.

Tentaram viciar os golpistas em minutas. Bolsonaro, Braga Netto, Paulo Sergio Nogueira e todos os outros tinham porções de minutas. Algumas só com os argumentos iniciais dos considerandos. Muitas em papel, outras virtuais, outras em nuvens.

Algumas minutas, segundo Torres, muito mal escritas, de péssima qualidade sob o ponto de vista da gramática, como se tivessem saído das obras parnasianas de Carluxo. Mas tudo para consumo próprio. 

Bolsonaro dizia em reuniões que ministros do Supremo receberiam milhões em dinheiro para fraudar a eleição. Moraes perguntou de onde ele tirou aquilo. Era desabafo para consumo próprio, era coisa privada que foi vazada, disse Bolsonaro.

As reuniões de Bolsonaro para buscar saídas, depois da derrota para Lula, eram privadas. Foi o que repetiu várias vezes. Ainda ocupava a mais importante função pública do país, mas os encontros golpistas, em prédios do governo, não podem ser levados a sério hoje porque eram particulares.

Paulo Sergio Nogueira, ex-ministro da Defesa, já dedurado como golpista e por isso mesmo transformado em réu, disse que fazia reuniões – com uma minuta sobre a mesa, segundo os delatores –, para tentar evitar fissuras nas Forças Armadas. Uma minuta dentro de um saco plástico, para consumo próprio.

Contou que os militares entravam em tempestades de ideias sobre como sair da enrascada da derrota, mas os ventos deveriam ficar ali entre os generais. As tempestades eram para consumo próprio. 

Bolsonaro, os generais, os civis do entorno, os que se aproximavam deles, todos foram se transformando em viciados em golpe, até entubar o fracasso.

Provavam minutas, ventanias de tempestades mentais, mensagens, relatórios, conversas no ouvido, tudo o que levasse a alguma conspiração, e ficavam viciados em GLO, estado de sítio, caos, acampamentos, bloqueios de estradas. Lidavam com toneladas de ingredientes para um golpe.

Mas o golpe seria para consumo próprio. Nada sairia dali daqueles grupos, das agora testemunhas das articulações, dos oito réus da primeira turma de golpistas e dos outros que virão a seguir. Derrotados na eleição e já se sentindo como fracassados, afundaram no vício. Brasília virou uma cracolândia do golpe.

Alguns, como Augusto Heleno, foram expelidos, por serem considerados inúteis ou porque aram a ser vistos com desconfiança ou porque não havia clima. Outros, como Freire Gomes, avisavam que não aprovariam daquilo. O chefe do Exército virou testemunha do que viu na usina de golpes.

Mas a maioria era viciada, alguns já com experiências em overdoses. Teve chefe militar que chegou a provar do bolsonarismo mais forte, como Baptista Júnior, que também desistiu, na última hora, e ou a ser considerado traidor e de só pensar em dinheiro. Esse também ganhou o status de testemunha.

Formaram-se as facções, dentro da estrutura do golpe para consumo próprio, e alguns fizeram o que é do jogo em todo tipo de crime, desde a mais singela contravenção. Delataram os parceiros. 

E sobrou então para um instrumentador, o que alcançava os ingredientes e cuidava da parte suja e istrativa do grupo. Sobrou para Mauro Cid, o subgerente, o cara que ouvia promessas de que um dia seria grande.

O golpe para consumo próprio desmoralizou generais, violentou a memória dos golpistas de 64, expôs a baixa qualidade do que eles estavam produzindo e deixou uma turma cheia de sequelas.

Mas se enganam os que acham que eles depam no STF rindo diante de Moraes, poucos deles com cara fechada, porque aram a ser uns bobos alegres. Não. Eles estão certos de que continuam não só faceiros e engraçados, mas também organizados.

A produção de ingredientes para o golpe para consumo próprio, que empurrou mais de mil manés para a cadeia, enquanto os chefes agora riem nos interrogatórios, continua nos laboratórios das bases da extrema direita do interiorzão. As células do golpismo de garagem continuam intactas.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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