Lejeune Mirhan aponta "espontaneísmo" de levante nos EUA e descarta guerra civil
Analista diz que levantes nos EUA expõem crise política, mas sem fôlego revolucionário: “não vamos exagerar”
247 - O sociólogo, professor e analista internacional Lejeune Mirhan afirmou, em entrevista à TV 247, que os protestos que tomaram as ruas de Los Angeles no último fim de semana não indicam um cenário de guerra civil iminente nos Estados Unidos, apesar das imagens que retratam um país em convulsão social. “Não vai ter guerra civil. Não vejo condição nenhuma”, declarou o especialista, reconhecendo, no entanto, o potencial de insurreições pontuais.
As declarações de Mirhan foram feitas em meio ao agravamento da repressão em território norte-americano, onde tropas da Guarda Nacional, fuzileiros navais e helicópteros ocuparam bairros da Califórnia, em resposta a protestos contra as ações do ICE – a agência federal de imigração dos EUA. Criado após os atentados de 11 de setembro de 2001, o órgão tornou-se, sob o governo de Donald Trump, uma ferramenta de perseguição a trabalhadores imigrantes, especialmente latinos.
Para Lejeune, o atual movimento popular contra essa política agressiva padece do mesmo problema que outros levantes do ado: falta de organização política. “Vamos ver como isso vai se desenvolver. Lembremos que quando Rodney King foi assassinado, foram semanas de levantes. E eu dizia: ‘o que falta? Falta uma liderança, um partido, uma concepção’. Então há um espontaneísmo no movimento, e movimentos espontâneos não levam a nada”, avaliou.
Embora reconheça que o ambiente político esteja contaminado por “rupturas” e “desgaste político de Donald Trump”, Mirhan alerta para análises apressadas sobre o fim do sistema norte-americano. “Não tenho ilusão de que isso vai significar uma revolução, uma ruptura ou a decadência do império por dentro. Calma. Não vamos exagerar”, disse. Ele também rejeitou projeções de que os Estados Unidos caminham para uma ditadura. “Estou apostando que não vai haver uma ruptura e nem que vai haver uma instalação de uma ditadura, que o Trump vai virar um ditador”.
A repressão aos protestos em Los Angeles, no entanto, aponta para um novo capítulo na escalada autoritária da Casa Branca. Ao autorizar o uso das Forças Armadas no estado mais populoso e progressista do país, Trump desafia as autoridades locais, afronta o federalismo e busca transformar a insatisfação popular em espetáculo político, galvanizando sua base. A retórica do presidente, de que prefeitos e governadores “não controlam a desordem”, lembra táticas históricas de regimes autoritários para justificar intervenções e concentrar poder.
Em seu segundo mandato, Donald Trump vem consolidando um projeto de intimidação e repressão. A instrumentalização das forças de segurança, os ataques sistemáticos à imprensa e o enfraquecimento de instituições democráticas marcam essa nova fase. A analogia com o cenário brasileiro de junho de 2013, também mencionada na análise da TV 247, levanta um alerta: aquilo que começa como revolta difusa pode ser manipulado por forças políticas autoritárias, transformando indignação legítima em palco para retrocessos históricos.
Para Mirhan, entretanto, os Estados Unidos ainda não atravessam o limiar de uma ruptura profunda. Ele recorda que já houve momentos mais intensos de mobilização e que, apesar da gravidade da situação, a história política do país não indica espaço para ditaduras. “Na história dos Estados Unidos não consta nenhuma ditadura”.
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