Cadê os BRICS quando precisamos?
"Parece uma boa hora para baixarmos nossas expectativas em relação aos BRICS", afirma Brian Mier
Nos últimos oito anos, tenho ouvido jornalistas, acadêmicos e comentaristas anunciarem que estamos vivendo em um novo mundo multipolar e que os BRICS estão nos libertando da hegemonia imperialista dos EUA. Alguns (poucos) desses chegaram a apoiar Donald Trump como um "mal menor" nas últimas eleições, comprando uma narrativa de propaganda espalhada por apoiadores dele, como o multimilionário nacionalista cristão Tucker Carlson, de que Trump, ao contrário de Biden, supostamente se opunha por princípio a qualquer guerra ou intervenção estrangeira. Até recebi um artigo defendendo isso por um amigo no PT que solicitou minha opinião.
Em "O Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo", Lênin alertou sobre os perigos de não fazer uma análise adequada da conjuntura. Então, vamos ver o que realmente está acontecendo:
Há um genocídio em curso em Gaza há quase 2 anos. Em termos de os BRICS agirem como uma força multipolar contra a hegemonia genocida EUA/Israel, ouvimos fortes palavras de condenação de líderes da Rússia, China, África do Sul e Brasil – mas nenhum deles cortou relações comerciais com Israel, muito menos tentou quebrar o bloqueio ou fornecer armas/e armado aos palestinos. Na verdade, a Rússia até aumentou seu comércio com Israel em 2024.
Talvez alguém pense: "tá, é horrível, mas a Palestina não está nos BRICS". Discordo, mas até entendo essa linha. Só que o Irã literalmente é membro dos BRICS. Por enquanto, estamos ouvindo o mesmo tipo de discurso crítico dos líderes dos BRICS sobre a Palestina, agora em solidariedade ao Irã. Mas algum país dos BRICS vai realmente cortar laços econômicos com Israel? É um país minúsculo. As economias da China, Rússia e Brasil não entrariam em colapso se fizessem isso.
Se os BRICS são incapazes de agir como bloco — já que inclui agora aliados próximos dos EUA, como os Emirados Árabes — ao menos os países individualmente poderiam mostrar alguma iniciativa, em vez de só palavras vazias. Se não for o caso, então parece uma boa hora para baixarmos nossas expectativas em relação aos BRICS.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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